sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

BOMBAS

O texto está no post anterior também.

BOMBAS

presenciei o explodir de uma granada
ontem de manhã
expeliu seus gases espirituais
e fui sereno na primeira parte da manhã

presenciei o explodir de um morteiro
hoje de manhã
expeliu seus gases sociais
e fomos militantes políticos na primeira parte da manhã

pós-bombas
pós-humanas
sociais, militares e espirituais
explodindo todos os dias
assoviando quando caem
descendo desconhecidas

quando escuto seu assovio me escondo antes da queda
me escondo antes da queda...



pós-humanos
reconhecemos o que queremos
e o resto se torna inútil
convivendo fisicamente
absorvendo o que parecer útil

nos afastando para dentro de nós mesmos
ao mesmo tempo em que somos sugados para fora
invocados pelo dia-a-dia
como atos de bruxaria

sob carapaças de egoísmo
ou couraças de autoconhecimento
a distância estelar entre nossas cabeças
encurta-se nos relacionamentos

enquanto penso nesse fluxo intenso
em que venho para dentro
e sou puxado pra fora
as disputas pela comida, conforto, sexo
meios de produção
de comunicação
de munição
alucinação
imaginação
começo a escutar um assovio crescente vindo do céu...
que mais uma vez me traz de volta
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BOMBAS
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corri como se escapasse de uma fera
desci as escadas da trincheira mais próxima
escondi-me o quanto queria
respirei o pouco que pude
aguardei protegendo as narinas
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continuaram os assovios
o bombardeio prosseguia
e ninguém sabia o conteúdo do que caía
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alguns fogiam desesperados
a maioria até queria
mas alguns sabem o que significa
o cair assoviado
das bombas coloridas

todos sabem o que é uma explosão
todos reconhecem seu assovio
todos sabem seus efeitos
esperam pela transformação

pós-bomba
pós-humana
tem gente construindo a sua
pode matar, pode manipular e pode até curar

trazendo a felicidade mais entre aspas que já existiu
ou suas substâncias mais neurológicas
ou felicidades mais alquímicas
ou curas miraculosas

contraindo os músculos faciais
pra alegria ou pro terror
alguns fogem desesperados
a maioria não

pra muitos salvação
pralguns alienação

os fabricantes de bomba não jogam em suas casas
tão pouco embaixo ficam
mas as bombas cairam
e lembrei-me de Kafka
era impossível não ser "feliz"
era impossível ser feliz
no fim nada era opção

agasalhei-me do bombardeio
numa mistura de oração e meditação
despedindo-me de qualquer opção de efeito em massa
que me pusesse em seu diapasão





Fred - 17/12/2008
Coleção Híbridos

Obs: - A Ilustra está no post acima!