terça-feira, 1 de novembro de 2011

Futuro? Evolução?

Imagino que, quando tivermos acesso a esse tipo de tecnologia, não teremos uma relação tão linear quanto parece aqui. Quando esses poderes da comunicação "cairem" nas mãos das pessoas criativas e subversivas, aí sim, teremos que assistir novamente todos estes vídeos conceituais, com uma visão mais realista destas conquistas, sentindo na pele do dia-a-dia os benefícios e distorções que advirão. 

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Mapas Coloridos


Mapas Coloridos


abro os olhos 
fecho a janela 
e parece que cessou o despencar de uma cachoeira 

ouço o vento na mata 
o sol me enche de bronze 
é bom jogar essa fase 
sem precisar de controle 

desperto
ainda bem que já há despertos
daquele tipo que vive suas horas
dentre tantos obedecendo o relógio biológico dos outros
e minhas horas

sob os odores de um tempo 
que quer saborear o futuro, 
antes do advento 

conhecimento e metal translúcido 
dados, algoritmos, linhas de código 
muitos assuntos 

nada como o movimento 
pra te lembrar que a vida 
depende desse momento 

e o processo de ressignificação da minha mochila genética 
de forma clara e frenética 
num monitor que pode me mostrar todas as porcentagens 
e estatísticas numa tabela 

a se processar nas ondas 
de meus erros e acertos 
não à esmo 

com estas multiplicações de mapas coloridos,
de todos os atos consumados 
geografias de pensamento 
dos ventos com microorganismos 
meteorológicos 
mercadológicos 

os mentirosos começam a ficar claustrofóbicos
com tantos vigias lá fora de suas cabeças
parecendo milhões dentro delas

vejo o mapa em alto relevo
das realizações humanas
sobrepondo o da natureza
e o meu

enquanto corro para desenvolvê-lo 
antes que eu vire terabytes de dados em vida 
é um apelo 

ainda sinto a importância 
de suar e sentir ânsia 

ainda consigo comer um fruta suculenta
tomar um copo d'água lentamente
dormir calmamente




Fred - 02/10/2011
Coleção Híbridos - Futuro Desconhecido

sábado, 17 de setembro de 2011

Inexato


Inexato


[Janela]
Um céu cheio de nuvens em negrume,
tapando uma terra pintada de luzes neon
e homens tecnológicos, feito vaga-lumes.

Saio para dar uma flutuada.
Sob um gramado de área planejada,
pairo, submisso, contemplando as mudanças.

[Próximo à enseada]
Sob meu flutuador, gigantesca área esverdeada,
limitada e condicionada, não gravitada,
muito distante da natureza natural
antes de ser dominada
.
.
.
Uma doença: e de cem em cem anos meu corpo se transforma.
Cor, cheiro, interesses e, até, alguns aspectos da personalidade.
Outra forma.
Já começo admitir que o passar dos anos só me trarão novidades.
Meu cérebro já deixou bem claro que não guardará tudo em sua valiosa memória.
Mas alguma porcentagem e algumas bobagens.

Bio-filósofos sugerindo "homo-porvir" ou "homo-inexatus".
Sigo firme e forte, com plena convicção de estar caminhando para alguma morte:
cultural, psíquica, emocional ou de alguns atos.

Hoje pareço-me mais com um humanóide do que um humano vulgar.
Ainda com traços humanos, consideraria.
Mas tudo parece um constante devir e se o processo seguir as primeiras amostras,
terei mais alguns anos para me acostumar
Em ser... "inexato", eu diria.

Vivendo a ficção citada no passado próximo.
Caminhando por entre objetos do imaginário, concretos,
E observando o quanto a tecnologia solidifica nossas criações de dentro,
espelindo-as para fora.
Encarando a sensação de ser sempre um cara de outrora.

Sensação esta acompanhada de eternidade à beira de uma morte repentina.
Como um jogo em que tenho vidas e mais vidas disponíveis como bônus.
Como se não existisse ônus.

Pensando conforme a música, ou não...
Se parece engraçado, ria junto,
Mas se parece sério, sério junto,
Se for melhor fingir de morto, morto junto.

O mais louco de tudo,
Colecionando centenas de anos,
Meu espírito parece ter preenchido menos de cem.




Fred - 17/09/2011
Coleção Híbridos - Futuro Desconhecido

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Frase

Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder prevalece, há falta de amor. Um é a sombra do outro. ”

C. G. Jung

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Mimetismo

Mimetismo

para as ruas escuras: trajes ébano
nas esquinas cheias de luzes: luzes iguais
entre as folhas verdes: verdes nos trajes
dentre culturas e mercado: práticas iguais

como correligionários que só enxergam os seus
como uma fibra entre as fibras do tronco da árvore
como a gota entre tantas da chuva dançante ao vento
uma célula do tecido vivo

aparentar o que todos parecem
demonstrar o que todos demonstram
mimetizado de ser vivo
disfarçado de ser humano
sob o véu do cotidiano

uma escama dentre escamas
uma das bactérias na lama
uma das folhas da grama
uma face mundana

a idéia sucessora das mais antigas
mais um organismo de células que engrenam a vida
o mimetismo que nos disfarça:
nos aliena e integra ao sistema
nos alia à uma colônia destruidora
ou à uma ditosa vivenda

contraste e anticontraste
por sobrevivência ou conveniência
o volume que destaca da planície sem diferenças

os pensamentos te deformam
ou te dão saliência
pra sair do olvido do mimetismo
e mimetizar-se na sapiência





Fred - 17/05/2011
Coleção Híbridos/Futuro Desconhecido

quinta-feira, 21 de abril de 2011

+Almas

A cada febre, uma experiência
extracorpórea, estranhamento, desdobramento
e os dias correram e algumas lembranças se perderam.

Até que um dia eu voltei para mim mesmo sob outra companhia
uma alma ali dentro de mim jazia
e essa entidade me dizia: "divide-te agora, conviveremos juntos,
você tem o direito de andar com nosso corpo durante o dia"
à noite eu me retomaria

E fiz terapias e outras psico-metodologias
achando-me esquizofrênico
desconfiado que pudesse conversar com o papel higiênico

Até que um dia eu voltei para mim mesmo com mais outra companhia
e essa entidade me dizia: "a parte da manhã é minha"
e meu dia, mais uma vez, se dividiria
à noite eu me retomaria

E essas duas entidades passaram a ter profissões em seus horários
e todos me achavam esquisito e nada ordinário

E os fenômenos se repetiram de forma esmagadora
e todas as entidades tinham posturas reformadoras
e sobrou-me 1 minuto, como se eu fosse a alma invasora
"se quiser!"
eu quis

Para as pessoas eu era um sujeito estranho e super "talentoso"
um multitarefa engenhoso
mal sabiam todos a comunidade de almas que habitavam meu corpo
pra mim nem um osso!

Depois resolvi abandonar a pretensão de governo daquele povo
não era democracia, mas um comum acordo entre eles
que estavam bem enquanto cada um fazia o que queria
isolei-me pelas entranhas estranhas abaixo do estômago
e resolvi meditar sobre meus sonhos

quem sabe alguém descobre qual é minha doença
carnal ou espiritual?!?
resgatando-me para dentro de mim, uma proeza
até lá eu espero pela caridade de uma boa alma prestimosa

que descubra que estou aqui dentro




Fred - 13/04/2011
Coleção Híbridos-Psico

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Dragões de Laboratório

dragões de laboratório

grunhidos e guinchos
surpresa geral
é de verdade o bicho
mais um animal

ouvi notícias
sobre dragões de laboratório
ouvi notícias

dos livros e imaginários
caminhando sobre a terra: o incendiário
não imaginaria em outra idade
conviver com meus sonhos em corporeidade

tão reais
seu bafo inescapável
seu dna, possível
seu corpo de gafanhoto
ouvi notícias

uma sombra em minha mente
um símbolo de carne e osso
é medo e encanto tosco
é submissão ao criador

diante das possibilidades da vida
das complexidades escondidas
todo sonho é ponto de partida

um beijo, um abraço
um pouco de amor para tocar os pés no chão
com a intuição nos céus
outro beijo, outro amasso

captando notícias de lugar algum
nenhures
sob as asas gigantescas das lendas
que começam a caminhar conosco
algures

ouvi notícias
sobre dragões de laboratório
impressoras de órgãos e outras sintetizações
ouvi notícias

tão reais
sombreiam sobre nós
seu dna possível
seu coração passível

mais uma vez engrandecidos
pelas possibilidades da vida
embevecidos com os amores da lida
sob as asas eternas das capacidades da vida

toda alma é possível de se criar (?)
nada é tão difícil de fazer andar (?)

cadê minha pertença que estava aqui?
o bicho comeu?
e aquele mundo da infância daqui?
o bicho comeu?

ouvi notícias
sobre dragões de laboratório
voam sobre nós
e alguém habita seu corpo
poderia ser qualquer um de nós

quando me for...
que corpo terei quando voltar?



Fred - 31/03/2011
Coleção Híbridos - Série Futuro Desconhecido

quinta-feira, 24 de março de 2011

Dica

Olás.
Acabo de conhecer o trabalho Linguaraz, do poeta pernambucano Pedro Américo de Farias.
Gostei muito do resultado: além das poesias, o bom gosto do projeto gráfico, músicas bacanas, criadas para os poemas (talvez o processo criativo tenha sido inverso?). Partidário que sou da ilustração complementar e expandir os significados dos poemas (aliás, de qualquer outro tipo de obra escrita), fiquei bastante feliz com o experimento. Não conheço o autor pessoalmente, no entanto, me senti familiarizado com as formas e temas das poesias.
O portal literário Cronópios nos dá o prazer de conhecer outros (e novíssimos!) autores, também.
Por isso, recomendo muitos passeios pelo site. Já li muita coisa bacana por lá.

Grande Abraço.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Na mesa de cirurgia:

Querer falar sobre algo que não se conhece por inteiro;

realizar-se sob pensamentos e atos
Que não encontram reverberação na sociedade
ou correspondência com seu ritmo interno.
Desbravar a selva de nossa ignorância em relação à qualquer assunto.
E ainda assim sair vitorioso.
Esperançoso, perto do momento da morte,
ou na expectativa de desligar-se deste mundo,
De flutuar aos céus sob luzes e sensações gloriosas
a dominar- lhe o corpo e a mente.

Eis a questão.

Transcender sob limitação.
Candidatar-se aos percalços de buscar conhecimento
e mudar atitudes e rotinas.
Transcender pela mente e esperar o corpo e os atos
traduzirem isto ao mundo
E ter paciência.

Eis a questão.

Desenvolver uma linguagem própria e, ao mesmo tempo histórica,
Que possa ser lida e compreendida por todos que nos tateiam as expressões,
Meio embaçados, turvos, trôpegos, porém decididos em nos compreender
Para ter a chance, não racional, de criarem suas próprias identidades e
E darem sentido ao mundo (seu mundo).

Eis a questão.

Como tirar leite de pedra. Com ferramentas delicadas
e nem sempre bem acabadas:
Cognição, epistemologia, filosofias, gnoses e agnosia,
memórias e esquecimento.
Aliás, o que significam mesmo?

Eis a questão para não desistir de tudo.
Funcionam.

Pois sejam lá quais forem os portais que se abram no momento da morte.
Importam os fortes que abriram seus corpos,
como se abrem as feridas e as flores.
Todos os corpos
que formam nossos pensamentos, emoções, órgãos e imaginações.
E esses corpos que se formam quando dizemos e pensamos
que somos ou estamos dessa ou
Daquela forma.
Essas f(ô)rmas que moldam e agregam todos os significados
que damos e identificamos para nós mesmos.

Nós esses que se desatam quando simplesmente fazemos o que pensamos.
Com toda responsabilidade e perdão necessários para compreender
que o que nos dá discernimento e aprendizado
começa por tatear o que significa amar.
...
De volta, de novo, observo da janela, a terra e as estrelas.
Coloco meus óculos de descanso, arrumo a camisa, amarro o tênis,
uma pequena coceira nas cicatrizes cutâneas.
Um sorriso e um novo dia.
Daqui alguns minutos começarão os transplantes.
Biomáquinas substituirão minha pele e coração.
Definitivamente, não serei mais humano, mas um outro.

Fred – 16/01/2011
Coleção Híbridos – Futuro Desconhecido

Anotações de um mago

o que seremos quando conseguirmos o que queremos?
não me refiro aos comuns que vivem sob pensar em subsistência
mas àqueles que vivem enterrando defuntos de si mesmos
renascendo depois de morta mais uma identidade
essas pessoas aspirantes
que desintegram com a força de seu psiquismo
qualquer vestígio de conceitos de antes
que não vigorem como verdadeiros
palpáveis, reais, vigorantes
nesse nosso mundo muito mais cultural
e regido pelo livre trânsito de signos
arquétipos, heróis e revolucionários do pensamento
muito além de seu tempo
instrumentando nossas mentes e corpos
para morrermos e renascermos

nossa força de vontade e pensamento austero e firme de significado
altera nosso cérebro, corpo e a matéria que nos cerca
matéria densa como a rocha ou sutil como o campo magnético
que nos envolve o corpo e a mente
nos evolve
evoluciona
para além de nós mesmos
mas em nós mesmos

essa força de vontade e pensamento
que à volta de uma idéia
nos empolga ou nos esmorece
e influencia-se por todos os fenômenos da vida que nos cerca
e intercambia com estes fenômenos que nos cercam
e trava batalha de intensidade com eles, que nos cercam
e, por isso mesmo, temos dificuldade de mantê-la à salvo
de nós mesmos e dos outros que nos cercam

como sair de uma palestra instrutiva, empolgante e agradável
sentindo-se capaz e forte
e resistindo ao esmorecer das idéias contrárias
ou dos desastres invisíveis de toda espécie
que nos assaltam e nos embaçam o foco
como uma selva invisível de signos, idéias
sem panacéia
que nos dê abrigo

os magos existem
e são aqueles que dominam
suas idéias
suas imagens
seus arquétipos
suas glândulas
suas dores
seus signos
e os dos outros

sim
magos porque a vida se rende a estes
e os grandes mistérios da vida se rendem genuflexos
e todos os reverenciam sem saber
ou o fazem senscientes
pois suas energias culturais nos encantam
por um magnetismo tão real quanto o pão do dia

o que se descortinará aos globos oculares
e anexos
quando tudo o que for energia
se desvelar será
as imagens de todas as ficções e fantasias
personificados e descritíveis
mensuráveis e inevitáveis

como nossas forças em cores e texturas de todos os dias
ventos, partículas e coisas em fluxo
a rodopiar sobre nossas forças, cabelos, cabeças e braços
com uma trilha sonora de orquestra
feito semideuses
aos olhos do homem comum


Fred 14/01/2011
Coleção Híbridos