domingo, 29 de março de 2020

laifeson

com inflexão de videogame na voz laifeson 
termina sua canção histórica   
a nau segue as águas marrom dúbias  
domina a todos um alerta  
e excitação de glória  
a canção executada em meio à total 
falta de recursos na nau 
traz um frescor que uma vida  
confortável jamais daria 
ali a novidade seria apreciada 
todos guardavam nada 
e um desejo de sobreviver 
à acachapante nuvem de morte 
laifeson afaga uma liderança felpuda 
único pet à bordo às vezes 
esguio peludo às vezes 
um papagaio vigilante no ombro 
a canção histórica dizia sobre 
a nuvem de morte 
que uniria à todos  
imãs contrários sujos e mal'avados 
singram as águas marrom dúbias  
laifeson apinhado de inseguros  
sem-futuro, constipados, mucosos 
e carrapatos sem memória 
o papagaio repete ao pé do ouvido  
ronrona trechos sobre os heróis  
das canções históricas que decorou 
laifeson sabe que nunca houve laifeson 
se irrita com a inflexão de videogame  
imita o papagaio o que ouve 
laifeson não-entende-mas-gosta 
a nuvem de morte deixara as coisas 
felpudas sobreviverem mas a nau  
abrigava somente aquela única  
lifeson singra e conta e inventa 
o que lembra histórias de glória  
o mar marrom dúbio cerca 
terras ricas de frutos e brenhas 
que nos tomaram os prédios  
e os miseráveis laifeson vê  
que tudo o que fita enquanto singra 
é um holograma lumiado  
de seu peito distópico 
sem instruções náuticas  
sem réplicas de eletrolas  
sem grumetes  
sem telepornografia 
sem remédios ou analgésicos  
sem cinema  
parque 
teatro 
sem guru laifeson  
vê a plateia no convés  
e aquela expectativa potente 
as crianças e todos crianças  
esperam laifeson esperam 
se cansam e se lançam  
às terras 
refazer tudo laifeson tudo 
porque seus corpos  
já não são mais os mesmos 
laifeson 




2020/03/26 
Fred Vieira