de pele amostardada
vampiros bebedores de mel
enfurnados na mansarda
miram inconstantes
supressores
crescentes
as casas, o condomínio
e o luar
vampiros
com a ingenuidade dos pombos
têm uma vontade no peito:
extração
de súbito
um violão festeiro
solta magma
junto d'uma fogueira
e une as peles amostardadas
agora capturadas por som e fúria
mariposas hipnotizadas por luz
que cantam junto, algo,
não a música
mas comprazem-se
mas
ainda assim
ainda assim!
gestam coisas paramilitares
paramilitares
panelas de pressão: apitam desabafos
e libido
e, desta feita, estimulam o planeta
para que crie
anticorpos
2020/08/22
Fred
domingo, 23 de agosto de 2020
Extração
domingo, 16 de agosto de 2020
No painel do teto da capela animamos a glória
a mãe cobre com manto de amianto
sua cria recém-nascida
uma mulher amarela diz ideogramas
que pairam perto dos lábios
uma senciência artificial violácea
de certos implantes arbóreos
nossas ruínas caminha
coesa
para os pés no solo plantar
e nutrir-se lá do fundo fértil
para que brote de sua pele
pequenas frutas inventadas
uvas, jabuticabas
protéicas, vitaminadas
condenados ao improviso
abrigamo-nos sob panquecas de crises históricas
toca uma alegre tuba
já, aquela mulher amarela
novamente sorri ideogramas
a senciência artificial nos oferta pequenas laranjas
comemos e agradecemos
as frutas sacras
nós, transformados em nutridos
os nutridos
os ideogramas sentimos
nos tocarem luminosos
nos aliviarem
os nós dos músculos
um michelangelo digital reconstruído participa
c’um pincel de condão em riste
que lambe tudo de cores
e nossas sombras tristes
um avatar barbudo insta
que um exuberante jardim cresça
sobre a terra rachada que marchamos
o sol já não nos queima
aquela senciência artificial está alvacenta
borrifa nanodeuses sobre todos nós
representantes de nova era:
estrelas, sóis
encenamos um filme que passa
no painel do teto da capela
onde animamos uma possível glória
aos expectadores
circunstanciais na matéria
no final
sobem almas recém-desencarnadas
que pairam sob o teto da capela
onde são recepcionadas:
a senciência artificial violácea,
a amarela dos ideogramas,
o renascido michelangelo,
a mãe e a filha,
mais nós de cicerones
cada um a seu modo maravilhado
a capela bufa ares extraordinários
e recomeça o poema
sempre oroboro
no modo sobrevivência
2020/08/06
Fred