domingo, 26 de abril de 2020

Praça cortada ao meio

O cara diz que quer merendá na bicuda
Neofacistas defensores do terraplanismo
Quer pele à prova de balas um outro de cenho inchado
Grafeno subcutâneo, se possível, tatuado
Alguém joga um chiclete no asfalto
E deixa um rastro hálito de menta
Risadas 
No boteco os passarinhos bebericam água-benta
Um casal monta sua casa de pau e plástico
Eles na faixa sexagenária dos quarenta
Escorada na árvore periférica da praça 
A chuva não entra
Um ônibus vem assoviando suas juntas
E urra de levar tantos na cacunda 
Uma jibóia de luzes impossíveis serpenteia
Grossa e alerta e feérica
Espera quem a perceba
Pronta pra ensinar



2020/04/26
Fred

terça-feira, 7 de abril de 2020

esporos_poema_prosa_v2

por favor, escutem! 

somos, sim, alienígenas, ouçam! 
aqueles que foram curados de sua morte 
votarão em seus médicos!
não é populismo, mas gratidão, aprendam!
ATENÇÃO!, para que se mantenha o chão 
sob seus pés
vim de um lugar em que as formas de vida 
são por demais diversas! 
também possuímos o que vocês chamam 
de mãe, mas a nossa feito esporos 
nos libera
e depois de vagar extremófilo 
pelo espaço radioativo fui capturado
diminuto 
por este planeta de dedos gravitacionais
aqui estou alojado, sobr’entre os nervos e glândulas, 
falo por meio deste humano
a criança a qual me filiei era enferma, mas, 
sob o sucesso de minha administração orgânica, 
anímica, cresceu saudável e poderá ser imortal 
é o que minha espécie oferece, em troca
se nos abrirem as próprias portas, as das vísceras
em verdade vos digo, 
em nossas estrelas somos incapazes de viver sozinhos
sem apropriação de outro organismo na vida 
seremos ínfimos
isso, por lá distante, é a ira dos descrentes 
dos sem fé, no Todo Esplendor, ou Esplendora 
fadados estamos a ser quase-comensais, 
injetados d’uma vida quase-usurpadora
trazemos benefícios, que exigem algum sacrifício
é o preço de nossa cultura e conselhos, 
longevos
expressamo-nos, imiscuídos, como quaisquer de seus pensamentos 
indistintos de vocês mesmos! 
compreendo o quanto pode ser difícil  
acalmem-se! digo mais...
nossos instintos dizem: consuma o espírito dos outros
mas resistimos à tal tentação, podemos mais, 
amar é estar junto de outro ser vivo e convivê-lo 
em afinação sincrônica, frouxo ou no comando 
flexível!
em verdade vos digo, que este corpo aqui só não pensa 
e delibera comigo! garanto, o vejo com um amigo  
tanto que resolvi tomar posse para esta grande revelação!
senadores e deputados, escutem! noto que alguns já se vão
queremos ajuda de seu planeta rico de vida, e de vocês
pois não queremos ser comensais, mas independentes
em verdade vos digo, não queiram ser leões como nascemos para ser
com o corpo programado para sentir fome
e desejo de possessão
queremos tempo para aprender com os exemplos biológicos 
o que pudermos, respeitosos e prudentes 
não precisam se rebelar, pois 
estamos por toda parte incubados
em vocês; sequer saberiam como começar a nos procurar
não manifestamos ameaça
enquanto demandarmos de dentro de vós serão eternos
e aprenderão como 
para que sigam seus próprios ermos
não riam meus excelentíssimos senhores! ofertamos colheitas
somos vizinhos, não elucubrações ou fictícios
todas as suas casas orgânicas se organizam à mesa entre bactérias e vírus
eu entendo, somos quase isso
retomemos!
assim, convivemos e esperamos 
vieram as eleições e decidimos que sim!
qual o melhor momento para chover o remédio da vida 
sobre a ferida que grita?
irmãos, em verdade vos digo!
assumir a presidência deste país resgata a responsabilidade 
que das estrelas trazemos
tanto para esta quanto para as outras nações, que, também,
mastigam as mesmas surpresas
perspicácias curtas adiam as oportunidades
vejam!
seu povo é urgente, precisa estar em melhor harmonia
somos uma via
por outro lado, alguns de vós sois demônios
sem chifres, enxofre, cauda ou couro rubro
seus cornos só poderiam ser vistos por dentro
no rígido percurso de sua bioquímica
entre veias e linfas a pós-verdade desenha 
espinhos longos tortuosos 
queremos sua fraternidade, sejam avatares, o tempo corre
vós, aí, que sois crentes e já dominam, em maioria, 
o governo desta gleba brasilis, saibam 
carecem de esbugalhar suas inteligências
como seu povo, queremos paz e troca, 
nada mais importa
tens cirandas, escolas, relacionamentos coletivos 
trocam fluidos, artes transformadoras, alho frito
aqui, muito nos apraz
burilei-me para ser um líder pacífico, com algo da sabedoria de minha raça
e afirmo
outros coordenadores de nossa origem se me respeitam, mas também vibram
amores, euforias e fúrias, talvez como todos ou ninguém aqui
podem se manifestar, impacientes aí da massa... entendam!
não riam ou gritem impedimento! – somos oportunos, pedimos convivência
somos a eternidade doce em suas veias
jornalistas, opositores, sei lá, eleitores 
os tomariam por doidos se dissessem sobre nós
por isso, é chegado o tempo da partilha
da multiplicação
literalmente, nas entranhas, juntos
talvez, porque o Divino que os habitam 
nos quer assim, um?
irmãos?
ou seremos, em disputa, grãos de mostarda diversa?
senhores, iniciamos uma nova era?

os deputados e senadores vociferam
e espumam
e não acreditam em nada




2020/04/08
Fred Vieira