e quando nossas células se confundirem com robôs
proteínas com nanoestruturas de carbono e outros
e quando defecarmos robôs
e forem eles os pequenos funcionários nanoconscientes
a aprender com milhões de outros seres veteranos em nós
e quando almas portáteis estiverem respeitosamente disponíveis
e estabelecermos telepatia por meio de botões
e olharmos o passado como um conto de bruxas
e quando sensores detectarem e transformarem em imagens
qualquer oscilação de humor e intenções
e relatórios traduzidos em gráficos mostrarem
o que senti quando descobri que me vigiavam,
quais minhas crenças, meus planos e projeções sobre o futuro
e quando alguém lhe perguntar e você tiver que tomar uma posição para responder
e quando robôs forem sutis
e parecerem corpos espirituais de tão delicados
e não forem mais robôs, mas tiverem um nome que não sabemos agora
e tocarem nossa alma como os dedos se tocam
e quando não lembrarmos tudo o que queremos dizer porque queremos responder tudo em uma única palavra...
e quando amar a vida for difícil porque podemos explodir de tanto contentamento
e a tecnologia nos descortinar QUALQUER COISA
e essa COISA QUALQUER mesmo sendo vista for incompreensível
e não tivermos alternativa a não ser sermos compreensivos
e a ficção científica servir para identificar somente quais as esperanças do autor
e a poesia for suficiente para dias de reflexão
e uma frase lhe tomar a mente por um dia inteiro
e concentrar-se for questão de sobrevivência
e sempre precisarmos reler porque nossa compreensão estará quantificada
no visor do monitor
reler porque nossa compreensão estará quantificada no visor do monitor
reler e compreender no visor do monitor
reler e compreender o monitor
e
filosoficamente póshumanos e préespirituais
inevitavelmente opacos de corpo
e transparentes de alma
traduzíveis energeticamente
decifrados geneticamente
e quem estiver no poder tiver toda razão do mundo para estar
e resistirmos para sermos seus irmãos...
teremos argumentos?
Fred - 04/06/2009
Coleção Híbridos
3 comentários:
Em primeiro lugar: que desenho mais cabuloso! Seus grafites são realmente incríveis, uma atração à parte. Adoraria poder relacioná-lo mais precisamente com o texto escrito, e assim ter uma noção mais clara da unidade que os dois formam; mas, infelizmente, minha leitura de imagens não é tão razoável como a de palavras. Se você pudesse me dizer alguma coisa sobre a construção conceitual e formal de seus desenhos, seria um grande aprendizado pra mim!
Quanto aos versos, adoro esse seu projeto de fundir temas como a natureza e a tecnologia, a máquina e o homem, o passado e o futuro, a imagem e a palavra. Na verdade, mais do que gosto: acho isso importantíssimo! Só o gênio de um verdadeiro poeta, visionário ou qualquer coisa que o valha, é sensível o suficiente para percerber os estímulos e as transformações enquanto elas acontecem, sendo, portanto, efetivamente atuais, e para mim, é essa tarefa de tentar expressar o tumulto de nossas vidas e o rumo que ela pode seguir que você consegue cumprir com uma bela eficiência artística.
Parabéns, meu caro, sempre!
Abraço!
Olá meu caro Bruno.
Obrigado pela sua generosidade nos comentários. Fiquei surpreso pelos elogios e pelo interesse nesse poema; tanto você como os outros que comentaram gostaram bastante.
No que se refere à imagem: Coleiras nasceu da relação que existe entre dominação e alguma utilidade de aprendizado que possa ser relacionada com essa dominação; como ponto de partida para a contrução da ilustração pesquisei algumas fotos e textos que falassem dos homens-hiena da Nigéria. As linhas e cores são referências mais tribais e sugerindo a fluência de "energias" que nos compõem, envolvem e são produzidas por nós - sem querer me alongar e explicar, o que acho que tiraria a graça da interpretação de quem lesse, e até limitaria as sensações e conexões que cada um constrói dentro de si.
Resumidamente: o texto e a imagem apontam para questões sobre tecnologia, dominação, aprendizado com a dureza que estas esferas podem oferecer e o resto é com o leitor.
Se lembrar de mais alguma coisa eu te falo.
Rrrsss.
Obrigado pela visita.
Abs
Fantástico! Forte!
Gostaria de voltar todos os dias aqui, nesse texto, e comentar passagem por passagem...seu texto é muitos!
"e a tecnologia foi descortinar QUALQUER COISA
e essa COISA QUALQUER mesmo sendo vista for incompreensível"
Tomara assim seja!!
Abraço!!!
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