sexta-feira, 21 de novembro de 2008

- Boatos sobre a guerra civil - I

inventaram umas balas de material orgânico
se alimentam dum pó transgênico

e o pior é que os soldados se apegam a elas
colecionam
alimentam
e observam
todas coloridas
e rajadas de outras cores
se mexendo dentro do projétil

"estavam dormindo no tambor"
"nem deveriam ter saído..."
é o que disse o colecionador

quando as cápsulas explodem por dentro
se alojam e descarregam altas cargas de endorfinas
hormônios de "felicidade intensa"

o problema é esse:
foram feitas para satisfazer na marra
e chega uma hora em que as pessoas ficam tristes de tão feliz

é até um contra-senso
mas penso que mesmo os que querem ser baleados
desistem depois de um tempo

a idéia era combater a depressão epidêmica
carência endêmica
e qualquer forma de distorção da felicidade espraiada
pelas autoridades competentes

mas tudo bem
os soldados sisudos estão aí pra isso
acabar com qualquer foco de resistência
.
.
.
.
sorria

e ande sorrindo pelas ruas
ou alguma patrulha pode detectar seu chorinho manhoso
e te aplicar uma bela dose de felicidade no peito







Fred - 21/11/2008
Coleção Híbridos - Pós-humanos e Pré-espirituais

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Disco Nadador 2 - Peixe Cerebrado

.

observando mais uma vez
a cicatriz que me adorna a boca...


falou-me uma voz do passado:
"Que nasça a oportunidade dentro de suas trevas..."

assim começou o despertar
de um sono de uma vida inteira
que desmoronou para deixar sair de dentro de mim
uma vontade de evoluir e crescer que meu corpo não acompanha

sempre respirei água
e continuarei a respeitar essa exigência de minhas entranhas

e continuarei lutando pela minha sobrevivência
sempre buscando o alimento necessário à minha autonomia

respeitarei toda e qualquer forma de passividade completa
desde que não me cerque

pois que deste cardume dormente e bonito por natureza
que me deu o direito de nascer saudável
ofereço gratidão eterna
não longeva como escamas
mas perene como minha alma

agradeço humildemente meu Patrono
que me deu o direito de observar-praticar-aprender
instalou uma caixa de ferramentas das mais bacanas
atrás de meu olhos
de forma que eu nem preciso procurar

e agradeço a oportunidade
de distinguir os anzóis por detrás de ofertas fáceis
pelo prazer da saciedade que ofertam
que pagaria com minha liberdade e minhas energias
um prazer incerto

anzóis não me alimentam e ainda me ferem
puxando-me para cima na velocidade da ansiedade
em direção ao céu dos homens
abaixo do que eu quero






Fred - 17/11/2008
Coleção Híbridos - Pós-Humanos e Pré-Espirituais

domingo, 16 de novembro de 2008

- Quietude

depois que me injetaram
alguns neurônios domesticadores
extinguiram-se muitas dores

algumas delas e coceiras internas
tornaram-se constantes
até que se instalassem
pois caminharam-me errantes

as celulinhas em bandos
farejando meu cérebro?
ou dúvidas minhas
se investi certo?

me surpreende
a calma que me abate a fúria
e a própria cólera alheia

me surpreende
o amor que me acomete
onde outrora me faiscaria a raiva em centelha

me surpreende
sentir saudades
das fúrias de antes

financiei minha domesticação emocional
sob o pretexto de melhorar meus instintos

acabei com um extremo
no entanto, ainda vencido,
tento entender se o vazio que sinto
vem da vontade de poder explodir
ou de aprender a extingui-lo

Deus queira q'eu não O tenha atropelado
ou a mim mesmo!?

Ou será que meu financiado auto controle
deixou meu livre-arbítrio a esmo?

talvez nunca tenha sido livre na cólera
mas nunca o seja extirpando-me a fúria

reprimir não me parece controle
exigir melhora também é um tipo de cólera

enganar o espírito com o corpo
me parece fraudar a vitória
de vencer os vícios em aurora

pensando nisto sinto-me impelido a não me irritar
à propósito, os neurônios domesticadores
voltaram a funcionar




Fred - 12/10/2008
Coleção Híbridos - Pós-humanos e Pré-espirituais