terça-feira, 19 de março de 2013

Joystick


Joystick



virus
mudança
dna diferente
espessa nuvem verbal
espanto
escassez de informação
internet
intolerância
tolerância
saúde pública
obscuridade
diálogos transversais
partidários
deputados e senadores
leis
misoneísmo...
o mundo estava mudando. nunca antes conviveram, tão abertamente,
idiossincrasias com tanta sincronia, numa harmonia louca.

rompantes de inadequação assolavam corpos e mentes. tudo podia
dentro das cercanias bem opacas da vigilância alheia.
como todos vigiavam já não cabia mais ser partidário de uma liberdade que nem sabíamos
por quem era cerceada.
que ninguém interferisse nas liberdades individuais, enquanto não se corrompessem em crimes
contra outras liberdades menos egoístas.
o mundo parecia louco em muitos aspectos, mas sempre havia espaço para a reserva.
uma conversa, um relacionamento, uma prece, um supermercado, uma alienada rápida
com fins higienizantes,
enfim.

salve os aparelhos eletromagnéticos que nos salvavam dos olhos maiores que os ouvidos:
os satélites, câmeras, rastreadores e ondas detectoras de movimento, dentre outros derivados
da vontade de controle.
salve as gemas anti-gravidade, o eletromagnetismo ao alcance de prestações,
a conectividade e a internet.

salve a arte que nos desprendia das limitações todas
e a projeção astral que nos levitava.

salve a biotecnologia que nos permitia vislumbrar algum plano extrassensorial.

naquele dia células de protesto se espalhavam pelas ruas. gadgets emaranhados entre cabeleiras,
celulares multiaditivados projetavam palavras de alguma ordem, tipos e mais tipos visualmente diversos
emparelhando vírgulas + vírgulas descritivas de jornalistas ávidos por eleger os protestos mais atraentes.
uma jovem usava um aparelho odonto... morfo, se mexia.
curioso, era até prazeroso ver como os fios, lentamente, imprimiam seu ritmo, tensionando e afrouxando,
bem provável que a garota já não se incomodasse mais.

sempre que alguém se transgredia acabava arremessando algo contra alguém ou alguma coisa.
quando algo explodia, havia a polícia.
mas tudo era muito brando em público.
tudo o que é efetivo precisa de momentos no esconderijo.
ali, os mais trangressores jogaram bombas de gás, que se dispersava lentamente.
o policial olhou a correria de dentro de seu tanque e calculou:
nada quebrou! lá eu não vou!
outro de cabeça emaranhada de panos e olhos de fora lançou um joystick contra um cinema...
esperou que explodisse algumas cabeças, mas ninguém entendeu o protesto.

nas imediações invisíveis dali riam-se algumas entidades, orgulhosas das movimentações brandas
e do pouco suor sufocado por antitranspirantes ideológicos.
aquelas cabecinhas todas distraiam os olhares inquisidores da controladoria geral pública.
seus olhares se voltavam para as periferias. todas elas.
mais acima uma turma tecnoinvisível conspirava sobre artefatos de gentileza em massa.
mais abaixo daquele pedaço de terra filas impacientes de aristocratas por entre os esgotos,
40tões na corrupção e com as pontas dos dedos todos queimados de fumar tudo quanto é pedra de perdão.
...



Fred - 19/03/2013
Coleção Híbridos - Futuro Desconhecido