segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Homem-Signo


Homem-Signo

o homem perceptível apenas por indícios
vestígios, traços, não mais é indivíduo
mas signo, um pictograma
que anda, interage, fala
tão expressivo quanto o imaginário
frente o desconhecido

...

sem mais as mãos / o corpo / o rosto
mas contornos / e traços / somente
ele não quer ser homem / mas um homem-signo



Fred - 05/11/2013
Coleção Híbridos - Futuro Desconhecido

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Caindo pra cima


Caindo pra cima

um mestre do bullying Natanael fora
quando este nem nome tinha
amaldiçoado por um hacker
a sua vida seria

sob seu corpo ressoaram as maldições
feito implantes capazes de flutuações

para o céu cairia
sustentaria tal mágica geniosa qual tecnologia?
caindo um braço ou perna
a piada do dia
além de que a morte o caçaria

sumir nos céus dava medo
sem teto, sem metro,
reto direto

mas os implantes se desencantaram
pelo passar eletromagnético
de uma labareda solar

do céu despencando para a morte
começou a rezar

dizem que antes de cair no chão
caiu para o céu mais uma vezinha
pela primeira vez à maldição
ele agradeceria

Natanael dá palestras motivacionais
patenteou o cair pra cima
os termos e as rimas

seguranças e vigias com lasers bifocais
quase invisíveis
intolerantes com qualquer flutuadazinha
garantem seus royalties
seus dias
e hegemonia




Fred - 21/08/2013
Coleção Delirium - Futuro Desconhecido

domingo, 14 de julho de 2013

Almost_invisible_man


Almost_invisible_man

canais e mais canais de informação / feito serpentes sem dentes de morder / mas de encaixar
começa um alergênico cotidiano / otimismo embalado num videoclipe / 365 dias com votos de ano novo
das vias que te levam ao trabalho / um zoom de câmera te mostra um ecossistema / na gota de orvalho
as dívidas se perdem por entre gols / protestos te insuflam identidade brasiliana /
dedos entrelaçados com a amada: videogame: enfrentando trolls
um pouco de acupuntura / sentir os pés no chão / convencer de ficar a alma que quer as alturas
fingindo conviver com isso / nosso herói possível solitário todo mobile /
adquire mais uma linguagem de código
corpo político imperceptível / um sorvete com ingredientes orgânicos derretido no estômago /
mas ainda verossímil

um hacker




Fred - 12/07/2013
Coleção Futuro Desconhecido

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Beep


Beep

o garoto pagou para tingir a pele de violeta claro
que irradiava uma luminosidade avermelhada
com os cabelos acompanhou tons vermelhos
ainda não havia acabado...

num rompante folclórico ufanista
inspirou-se no curupira
em suas pernas inversas artísticas

outro garoto comprou um detector de radioatividade
para explorar o mundo
um grande achado
buscou na cidade

com os olhos irradiando conquista
ouviu um Beep
junto de um par de pernas artísticas




Fred - 23/06/2013
Coleção Futuro Desconhecido

domingo, 26 de maio de 2013

Fogo brando


Fogo brando

ele queria levitar
mas era idéia para homens santos
ainda queria ser o mesmo
o livro não o permitiria
às idéias novas
sua mente des(ó)rbita

incendeia o livro
e se arrepende
hirto

o fogo é branco
brando
sem os amarelos, laranjas, e azulados...
branco

combusta o espírito em luzes
numa dimensão alhures

ainda dá tempo
ele pega uma máscara de solda
as idéias insólitas
consegue ler um pouco

se senta e medita



volita





Fred - 26/05/2013
Coleção Híbridos

domingo, 12 de maio de 2013

Corrida Maluca


Corrida Maluca


atropelou
arrancou as nádegas da coitada
jogou as próteses num terreno baldio

uma cachorra comeu
morreu intoxicada
antes do fim, ganiu

um veterinário necropsiou
um código de registro da prótese foi encontrado
ele riu

o cara que atropelou
ganhou a corrida maluca
fazendo pontos extras, seu carro tilintou-jingle-brilhou

a coitada novas próteses implantou
recompôs o cenário de novo
ela riu





Fred - 05/02/2013
Coleção Videogame Mobile

terça-feira, 19 de março de 2013

Joystick


Joystick



virus
mudança
dna diferente
espessa nuvem verbal
espanto
escassez de informação
internet
intolerância
tolerância
saúde pública
obscuridade
diálogos transversais
partidários
deputados e senadores
leis
misoneísmo...
o mundo estava mudando. nunca antes conviveram, tão abertamente,
idiossincrasias com tanta sincronia, numa harmonia louca.

rompantes de inadequação assolavam corpos e mentes. tudo podia
dentro das cercanias bem opacas da vigilância alheia.
como todos vigiavam já não cabia mais ser partidário de uma liberdade que nem sabíamos
por quem era cerceada.
que ninguém interferisse nas liberdades individuais, enquanto não se corrompessem em crimes
contra outras liberdades menos egoístas.
o mundo parecia louco em muitos aspectos, mas sempre havia espaço para a reserva.
uma conversa, um relacionamento, uma prece, um supermercado, uma alienada rápida
com fins higienizantes,
enfim.

salve os aparelhos eletromagnéticos que nos salvavam dos olhos maiores que os ouvidos:
os satélites, câmeras, rastreadores e ondas detectoras de movimento, dentre outros derivados
da vontade de controle.
salve as gemas anti-gravidade, o eletromagnetismo ao alcance de prestações,
a conectividade e a internet.

salve a arte que nos desprendia das limitações todas
e a projeção astral que nos levitava.

salve a biotecnologia que nos permitia vislumbrar algum plano extrassensorial.

naquele dia células de protesto se espalhavam pelas ruas. gadgets emaranhados entre cabeleiras,
celulares multiaditivados projetavam palavras de alguma ordem, tipos e mais tipos visualmente diversos
emparelhando vírgulas + vírgulas descritivas de jornalistas ávidos por eleger os protestos mais atraentes.
uma jovem usava um aparelho odonto... morfo, se mexia.
curioso, era até prazeroso ver como os fios, lentamente, imprimiam seu ritmo, tensionando e afrouxando,
bem provável que a garota já não se incomodasse mais.

sempre que alguém se transgredia acabava arremessando algo contra alguém ou alguma coisa.
quando algo explodia, havia a polícia.
mas tudo era muito brando em público.
tudo o que é efetivo precisa de momentos no esconderijo.
ali, os mais trangressores jogaram bombas de gás, que se dispersava lentamente.
o policial olhou a correria de dentro de seu tanque e calculou:
nada quebrou! lá eu não vou!
outro de cabeça emaranhada de panos e olhos de fora lançou um joystick contra um cinema...
esperou que explodisse algumas cabeças, mas ninguém entendeu o protesto.

nas imediações invisíveis dali riam-se algumas entidades, orgulhosas das movimentações brandas
e do pouco suor sufocado por antitranspirantes ideológicos.
aquelas cabecinhas todas distraiam os olhares inquisidores da controladoria geral pública.
seus olhares se voltavam para as periferias. todas elas.
mais acima uma turma tecnoinvisível conspirava sobre artefatos de gentileza em massa.
mais abaixo daquele pedaço de terra filas impacientes de aristocratas por entre os esgotos,
40tões na corrupção e com as pontas dos dedos todos queimados de fumar tudo quanto é pedra de perdão.
...



Fred - 19/03/2013
Coleção Híbridos - Futuro Desconhecido