quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Spiritual Robots

No caminhar dos robôs gigantes
seus 10 metros deslizantes
precisam dos sensores a todo instante
para qualquer quadrante observar

Botões avivando os sensores:
Mecan(o): pisca o monitor; quadrados, círculos e números mensuram
Organ(o): pisca o monitor; brilham as estruturas vivas e apagam-se as restantes
Spirit(o): pisca o monitor; brilham as almas e os fluidos que perpassam e se entrelaçam em tudo

No andar dos robôs gigantes
seus 10 metros deslizantes
precisam dos sensores a todo instante
para qualquer quadrante observar

.

enxergar os raios gama vindos do céu
se não é outra dimensão da percepção, o que é então?

quando a aura muda de cor num beijo de amor
se não é outra dimensão da percepção, o que é então?

neste quadrante
os transeuntes percebem o que sai do corpo no momento da morte
o spiritual consumer
é um forte
quer as tecnologias do invisível
para elevar-se no momento da morte

os vultos são comuns
conversar com eles, ainda, é pr'alguns
pouco fala-se em morte mesmo
porque os dois planos agora são um

.

alfanje
kimono com bermuda
tranças afro em fibra ótica
mudando a cor da pele com controle remoto
mais uma esquina qualquer

preconceituosos correm perigo pelas ruas
e a diversidade exuberante torna-se hierática de tão comum

pobres e miseráveis saem da invisibilidade
e os becos e buracos abertos
expõem suas culturas marginais e sua inevitabilidade

culto ao passado
lâminas modernosas reverenciando as violências de outrora
perde espaço e prestígio toda a eficiência asséptica da tecnologia
agora, disfarçada de culturas antigas, renascidas e mescladas
a maioria quer se sentir imersa
e com as antenas de fora escancaradas

redescobrindo o passado
desencantados com os sertões de concreto
e extensos gramados jardinados e civilizados
misturebas e mixagens rumo ao desconhecido

na lida dos canaviais transnaturalizados,
nos aviões com cintos de biossegurança,
nas minas de ouro e de diamantes industrializados,
nos mosteiros seculares informatizados,
nas orações e rituais na presença de almas desencarnadas...
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Neste quadrante
No caminhar dos robôs gigantes
seus 10 metros deslizantes
os sensores a todo instante conseguem a tudo observar

Em todos os quadrantes
Arduamente
todos continuam buscando a felicidade





Fred - 18/11/2009
Coleção Híbridos - Futuro Desconhecido

2 comentários:

Anônimo disse...

Fred,

Esse, talvez, seja o mais enigmático e o mais fascinante poema seu que eu li. Confesso que o encarei várias vezes antes de ter a coragem para lê-lo. Na verdade, ainda o estou lendo.

Sempre que lia esse título, pensava o seguinte: "Robôs espirituais, ou seja, robôs-espíritos". Mas, hoje, também pensei: "Robôs espirituais, ou seja, robôs que 'atingem' o campo espiritual sendo, ainda assim, 'materiais'". Fico refletindo sobre que abordagem seguir, mas sei que não há abordagem correta.

Esse texto me remete ao tema da tecnologia humana, além de outros. Eu tenho uma relação de amor e ódio com a tecnologia. Por que acho essa tecnologia humana parcialmente prepotente e prejudicial. O ruim é que essa parcela, as vezes, é muito grande. Ou eu tenho uma percepção muito grande dela. Não sei ao certo.

O poema "são fortes". São muitas coisas. Gostaria de falar sobre cada frase dele. Os temas são fascinantes: morte, cultura, passado, sociedade, etc.

Esses robôs parecem imponentes, "gigantes", "conseguem a tudo observar". Mas, ainda assim, com todos os seus sensores, com todo seu tamanho, mesmo presentes em "qualquer quadrante", ainda assim, estamos, todos, a buscar a felicidade.

Será que os "spiritual robots" são aliados na busca? Já que eles podem observar tanta coisa. Será que estamos buscando no local certo? Ou, melhor ainda, será que tem um lugar certo para buscar? Questões antigas, por vezes, aparentemente, ingênuas.

Enfim, o poema me deixou "positivo". Afinal, viver não é fácil mesmo.

Obrigado pelo poema.

Abraço!

Rodrigo.

Fred - Grafiq disse...

Olá Rodrigo.
Você, realmente, entrou no clima. A descrição de suas interpretações e leituras foram direto aos pontos que você mencionou. E me trouxeram outras reflexões.
A tecnologia pode sim ser usada com fins espirituais e confeccionada com recursos espirituais também (por que não?). Afinal de contas as energias, realidades e sensores estão cada vez mais catalogados e estudados, a ciência se aproxima do espírito. A espiritualidade será inegável um dia.
Até lá estamos aprendendo com o caminhar e as possibilidades.
É nesse campo que a série Futuro Desconhecido se desenvolve.

Obrigado pelos elogios e contribuições.

Grande Abs.