quinta-feira, 21 de abril de 2011

+Almas

A cada febre, uma experiência
extracorpórea, estranhamento, desdobramento
e os dias correram e algumas lembranças se perderam.

Até que um dia eu voltei para mim mesmo sob outra companhia
uma alma ali dentro de mim jazia
e essa entidade me dizia: "divide-te agora, conviveremos juntos,
você tem o direito de andar com nosso corpo durante o dia"
à noite eu me retomaria

E fiz terapias e outras psico-metodologias
achando-me esquizofrênico
desconfiado que pudesse conversar com o papel higiênico

Até que um dia eu voltei para mim mesmo com mais outra companhia
e essa entidade me dizia: "a parte da manhã é minha"
e meu dia, mais uma vez, se dividiria
à noite eu me retomaria

E essas duas entidades passaram a ter profissões em seus horários
e todos me achavam esquisito e nada ordinário

E os fenômenos se repetiram de forma esmagadora
e todas as entidades tinham posturas reformadoras
e sobrou-me 1 minuto, como se eu fosse a alma invasora
"se quiser!"
eu quis

Para as pessoas eu era um sujeito estranho e super "talentoso"
um multitarefa engenhoso
mal sabiam todos a comunidade de almas que habitavam meu corpo
pra mim nem um osso!

Depois resolvi abandonar a pretensão de governo daquele povo
não era democracia, mas um comum acordo entre eles
que estavam bem enquanto cada um fazia o que queria
isolei-me pelas entranhas estranhas abaixo do estômago
e resolvi meditar sobre meus sonhos

quem sabe alguém descobre qual é minha doença
carnal ou espiritual?!?
resgatando-me para dentro de mim, uma proeza
até lá eu espero pela caridade de uma boa alma prestimosa

que descubra que estou aqui dentro




Fred - 13/04/2011
Coleção Híbridos-Psico

3 comentários:

Bruno Maiorquino* disse...

"Eu sou muitos", já dizia Pessoa. Aliás, não é de agora que seus versos me lembram Pessoa, Ricardo Reis, talvez. Gostei dos versos. E me chamou atenção o nome que você deu à coleção que este poema faz parte: "Híbridos-Psico". Desde sempre achei que você tinha criado um tipo de identidade estética; seus versos sempre tiveram uma "inspiração e forma" comuns, que trabalham essa coisa da fusão de elementos espirituais, psicológicos, mecânicos, orgânicos etc. E me parece que a ideia chave na sua criação é justamente essa: fusão. Por isso o nome "Hibridismo" me parece extremamente adequado para 'classificar' (com o perdão do uso deste termo carregado, que pode dar a ideia de limitação - mas juro não ser este o caso) a estética recorrente dos seus versos. Acho que até já disse que você tinha criado o seu próprio "movimento", tipo movimento literário, justamente por ter encontrado essa identidade e se dedicar meio que exclusivamente a ela. É isso aí. Como também escrevo, sei o quanto é difícil encontrar uma forma que realmente seja capaz de expressar nossas ideias. Parabéns pelo trabalho, hehe.

Abraço!!!

Fred disse...

Nossa! Antes de mais nada, obrigado pelos elogios.
O nome Híbridos você matou a charada, é isso mesmo. Com relação às temáticas e ao "jeitão" de escrever achei interessante sua colocação, porque estamos juntos nessa (no exercício de) há algum tempo e temos já uma visão geral sobre nossas trajetórias (de um para o outro). Em nossa simples e solitária, porém honesta e esforçada, saga literária podemos nos orgulhar de nossa cumplicidade artística: não somos grandes, mas somos "limpinhos" e sinceros.

Grande Abraço.

hamilton disse...

Falem Freds! Muito bom seus escritos! Eles atiçam a minha imaginação e me fazer refletir sobre as diversas personalidades que somos no decorrer da nossa vida, mas qual será a nossa verdadeira personalidade? É... como já lembraram no comentário acima, evoca os Fernandos Pessoas... Mas faltou as já clássicas ilustrações que sempre acompanham e completam de outro modo as poesias! abs!