sábado, 17 de setembro de 2011

Inexato


[Janela]
Um céu cheio de nuvens em negrume,
tapando uma terra pintada de luzes neon
e homens tecnológicos, feito vaga-lumes.

Saio para dar uma flutuada.
Sob um gramado de área planejada,
pairo, submisso, contemplando as mudanças.

[Próximo à enseada]
Sob meu flutuador, gigantesca área esverdeada,
limitada e condicionada, não gravitada,
muito distante da natureza natural
antes de ser dominada
.
.
.
Uma doença: e de cem em cem anos meu corpo se transforma.
Cor, cheiro, interesses e, até, alguns aspectos da personalidade.
Outra forma.
Já começo admitir que o passar dos anos só me trarão novidades.
Meu cérebro já deixou bem claro que não guardará tudo em sua valiosa memória.
Mas alguma porcentagem e algumas bobagens.

Bio-filósofos sugerindo "homo-porvir" ou "homo-inexatus".
Sigo firme e forte, com plena convicção de estar caminhando para alguma morte:
cultural, psíquica, emocional ou de alguns atos.

Hoje pareço-me mais com um humanóide do que um humano vulgar.
Ainda com traços humanos, consideraria.
Mas tudo parece um constante devir e se o processo seguir as primeiras amostras,
terei mais alguns anos para me acostumar
Em ser... "inexato", eu diria.

Vivendo a ficção citada no passado próximo.
Caminhando por entre objetos do imaginário, concretos,
E observando o quanto a tecnologia solidifica nossas criações de dentro,
espelindo-as para fora.
Encarando a sensação de ser sempre um cara de outrora.

Sensação esta acompanhada de eternidade à beira de uma morte repentina.
Como um jogo em que tenho vidas e mais vidas disponíveis como bônus.
Como se não existisse ônus.

Pensando conforme a música, ou não...
Se parece engraçado, ria junto,
Mas se parece sério, sério junto,
Se for melhor fingir de morto, morto junto.

O mais louco de tudo,
Colecionando centenas de anos,
Meu espírito parece ter preenchido menos de cem.




Fred - 17/09/2011
Coleção Híbridos - Futuro Desconhecido

4 comentários:

Luciana Carvalho - Mãe, Educadora Perinatal, Doula (Parto e Pós-Parto) e Professora de yoga disse...

Um futuro distante, mas ao mesmo tempo próximo, você nos mostra os cenários das consequências de nossas ações...tenho certeza que todas as pessoas que tiverem acesso aos seus poemas refletirão sobre esse futuro incerto e "desconhecido" e buscarão em suas ações cultivar mais alma, mais auto-conhecimento e mais vida!
Obrigada por nos ajudar a pensar nele!

Bjinhos e continue sempre nos presenteando com suas palavras e pensamentos!

Fred - Grafiq disse...

Bem-vinda.
Volte sempre e obrigado pelas palavras generosas. Indiretamente você me ajuda a escrever. O processo criativo passa pelas vivências e convivências, portanto...
Bjs

Rodrigo Lima disse...

Grandes imagens, diferentes, inusitadas. Grandes relações entre essas imagens.
Poderia ficar dizendo sobre cada palavra, cada frase e cada pensamento que me vem junto de tudo isso.

"Meu espírito parece ter preenchido menos de cem."

Curioso como a técnica, mesmo que intuitiva, de escrita é algo bastante interessante. Cria-se toda uma expectativa em torno das ideias para, no fim, dar uma bela pancada com uma ideia arrebatadora.

Realmente, você escolheu boas palavras para descrever(ou ao menos tentar) esse sentimento que a gente sente quando se depara com algo mais próximo da verdade. Esse sentimento de achar tudo isso uma grande loucura.

"O mais louco de tudo..."

Espírito. Pelo que conheço de ti, essa palavra é uma crença, uma fé, talvez algum sentimento, alguma intuição, algo do gênero. É uma palavra forte no texto, na verdade. Fiquei tentando trocá-la, por exemplo, pela palavra mente:

"Minha mente parece ter preenchido menos de cem."

Ficaria completamente outra coisa, até mesmo sem muito sentido, sem a oposição com o texto mesmo, com as outras ideias presentes nele. Portanto, essa palavra traz uma das chaves para entendimento do texto, ou melhor, do que há por trás do texto, das ideias dos sentimentos compartilhados, das ideias do seu sentimento em relação as ideias do texto. Até mesmo, e talvez tão somente, das ideias dos leitores que estão além do texto, que transcendem o texto.

Enfim, são ideias que eu tive lendo o texto e escrevendo esse comentário. Aliás, vendo com atenção, é o que pode acontecer numa leitura.

Fred disse...

Achei curioso como algumas frases chamaram mais atenção do que outras.
Mas me lembro que no momento em que escrevia estes seus destaques, Rodrigo, eles me saltavam na cabeça também. Não tinha pensado em alguns toques que você deu...
Obrigado pela visita.
Abs