“
De
alguma maneira puder ver, por uma nesga generosa do Tempo, uma pequena
nuvem de partículas furta-cores perto de minha boca, e depois
desaparecendo nas imediações de meus lábios, num formigamento breve,
pinicando, porque entrava pelos poros e mucosa: um algoritmo em nuvem.
A missão, cumprida, era contrair os músculos do meu rosto em forma de
um sorriso sincero. Resisti o quanto pude. Saiu um sorriso amarelo e
bochechas vermelho-melancia. Provavelmente, alguém filmou. Para usar em
alguma manipulação de satisfação comprovada – talvez, porque nesta rua haja propaganda de segurança privada: olhem como as pessoas andam e são felizes, pois sentem segurança e liberdade.
Dias depois, numa sessão mediúnica, recebi mensagem anônima: as pessoas
que monitoraram a minha invasão, pequena possessão muscular, perceberam
minha resistência e praguejaram o fracasso, o sorriso fora falso. Sorri
e ri, até, com aquela sinceridade que arregaça as veias. Orei e prometi
resistência. Gargalharei de vitória cada vez que eu não sorrir. Com os
punhos fechados eu saí da sessão. E orei como oram as harpias, com as
plumas eriçadas.
”
2020/07/05
Fred
quarta-feira, 22 de julho de 2020
Um algoritmo em nuvem
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