A realidade é que ninguém sabe quando começou, por que ou as causas que movimentaram o solo por toda parte do planeta.
Começou com crianças contando aos seus pais que o gramado da chácara estava se mexendo, enquanto surfavam, por sobras de caixas de papelão, as ondas de grama e terra similares ao mar.
Aquele comportamento marítimo das superfícies da terra se manifestaria em todo o globo.
O jeito molusco de se revolver, a musculatura subterrânea, a ondulação preguiçosa das planícies e planaltos, o encolhimento e o esticar de pescoço de colinas, montes e montanhas agudas feito colossais couros de lesma.
O reino mineral ganhara uma malemolência tropical. Agora, ajeita-se inquieto.
O planeta manifesta alguma coisa de suas entranhas. Insta a impermanência da vida de maneira mais aguda que todo o antes: tremendo as bases de todas as almas vivas, suas casas e calçadas.
A hipótese nunca comprovada que ganhou vida por mais tempo foi a de que precisávamos de uma extração xenomórfica: algo enorme se instalara bem debaixo de nossos pés e consumiria o planeta caso não interviéssemos.
O transe da autoverdade continua a subir. A desinformação é a explosão primordial, gênese de toda a argamassa pegajosa que constitui os mais resilientes mitos e ficções: pois andam conosco e vemos suas deformações.
Outros, pessimistas, acham que a Terra sempre foi assim, e que, agora, nossas mentes capacitaram-se a perceber.
Se as cidades não foram destruídas por completo necessitam de postura vigilante, incansável e industriosa de nossa parte, todos os seres vivos, em produzir meios de sobrevivência e materiais flexíveis, ritmados às vezes. Uma dança inextricável e diligente.
Nossas casas recebem manutenção diária.
Estudamos todos os dias, viscerais, os lugares mais propensos à calmaria. Por ali conseguiremos dormir por mais tempo, deitados.
Estamos na fase inicial da aceitação.
Fico imaginando uma tempestade dos solos, tempestade de chão, mas não, nunca houve, ainda.
O planeta é coisa vetusta, não se remexeria para se livrar de nós. Eu acho...
Um chão impaciente tem efeitos duradouros sobre qualquer índice de estabilidade psíquica. Sentir o corpo reequilibrar-se por horas, a paciência testada e esparramada sobre outras posteriores horas pode ser tortura ou guerra, mas sempre será alerta e luta.
“Aceite, que doerá menos”.
Tem diversão, também destruição, tem oportunidade em flor, tem reconstrução e labuta, tem deslumbramento nas montanhas que se revolvem preguiçosas, mas dói.
Às vezes é incrível, mas dói.
Cosmos, Universo! A terra inerte descansava minha alma.
A vertigem.
A vertigem.
2020/02/22
Fred
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